De como um cemitério pode abrir caminho ao funeral de um político
Uns dias depois de o Governo do PS, com a anuência de vários municípios de cores distintas, ter "oferecido" milhões ao Oeste, a Câmara da Nazaré apresta-se para anunciar mais uma obra estruturante. Com a ironia só ao nível de um camafeu disfarçado de político que anda por aí de "boleia" pela nossa praça, poder-se-ia falar de mais um parque subterrâneo, mas como o assunto é muito sério o melhor é elevar o nível. Falo do futuro cemitério da Nazaré, que o presidente da Câmara admitiu vir a pretender criar, assim que o espaço para ampliação do cemitério da Pederneira chegue ao fim dos dias.
Este é um assunto que não pode ser discutido de ânimo leve.
Confesso que não tinha a noção de que Jorge Barroso fosse tão progressista ao ponto de abdicar do cemitério de todos os nazarenos, ainda para mais para permitir que, uns metros ao lado, fosse construído um condomínio privado. Mas, afinal, onde está a minha admiração?
Admito que tinha a ideia de que o presidente da Câmara teria mais sensibilidade para lidar com questões que podem vir a afectar gerações de nazarenos e nazarenas que, todos os dias, se deslocam à Pederneira para visitar os restos mortais daqueles que amavam. E nem os sucessivos "apelos" do "paleco" Reinaldo Silva sobre a importância cultural que o cemitério da Pederneira tem para a população o fizeram vacilar. O autarca nem se coibiu de, tão magistralmente como costuma fazer, atacar a oposição por querer comprar um terreno "de primeira" em termos turísticos, que iria custar milhares de euros aos cofres da Câmara, mas que defenderia o interesse público e, provavelmente, poderia evitar a eventual contestação popular. "Afinal, somos uma Câmara rica. Compramos tudo", glosou, ainda, Barroso, o qual, obviamente, não escapou às piadas colaterais da compra de votos nas sessões do executivo...
Mas, afinal, o que se passa com Jorge Barroso? O que o fez mudar de um dia para o outro? Que políticos malabaristas são estes que tão depressa acusam alguns de arquitectar planos desconcertantes para eleger presidentes de Câmara e, anos depois, concedem entrevistas elogiosas sobre essas mesmas pessoas, ainda por cima a órgãos, no mínimo, duvidosos e a pseudo-jornalistas com segundas intenções que, curiosamente, têm os mesmos nomes dos visados? Onde isto vai parar? Alguém explica como um indivíduo devidamente identificado pela sociedade pode passar de arqui-rival para braço-direito de um autarca? E, a partir daí, querer condicionar e mandar em tudo, com o beneplácito do chefe. E dizer as maiores barbaridades sobre tudo e mais alguma coisa?
Jorge Barroso pode estar a abrir uma Caixa de Pandora, cujas consequências políticas são difíceis de medir. Ou fáceis. Basta abrir os olhos.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
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