terça-feira, 3 de junho de 2008

A (alegada) estabilidade política

De como o PSD obteve uma maioria absoluta, sem ter de ir a votos
Ao 15º ano de governação da Câmara da Nazaré, Jorge Barroso (PSD) encontrou a "estabilidade política" necessária para concretizar os grandes projectos. É verdade que teve três mandatos consecutivos (entre 1994 e 2005) com maiorias absolutas, mas foi preciso esperar por um mandato em que teve maioria relativa e em que até, imagine-se, se zangou com o vice-presidente Reinaldo Silva para, em poucos meses, encontrar a tal estabilidade política.
O histórico presidente de Câmara, que se prepara para tentar mais uma vitória eleitoral e, com isso, atingir 20 anos em funções, tem demonstrado uma vitalidade que alguns julgavam perdida pelo "cansaço" de poder.
De uma assentada, aproveitou a inabilidade política de um PS sem rumo e de um Grupo de Cidadãos Independentes sem fulgor para evitar a realização de eleições intercalares e, ainda assim, garantir a sua... quarta maioria absoluta. E sem precisar de ir a votos.
Com o argumento gasto de que todos os partidos defenderam, em campanha eleitoral, lutar pelo desenvolvimento, atraiu João Benavente (PS), depois António Salvador (Independentes) e, quando tudo parecia perdido com a renúncia do socialista que presidiu à Câmara da Azambuja, ainda foi capaz de "contratar" José Joaquim Pires (PS). E ainda teve arte e engenho para tentar adquirir os conhecimentos de António Trindade (Independente), só que este não aceitou ou foi impedido de aceitar.
É por isso que não se pode falar em "estabilidade", porque ela só foi conquistada com o recurso a um expediente pouco aceitável em política: a garantia de votos nas reuniões de Câmara, obtendo um apoio e uma solidariedade que, sabe-se, só o dinheiro compra. Afinal, toda a gente tem o seu preço.
Armado com a vantagem de ter um conhecimento dos assuntos mais aprofundado do que os restantes vereadores, Jorge Barroso tem conseguido, aliás, fazer um autêntico "passeio". Chega ao ponto de culpar o Estado pela penalização de que a Câmara foi alvo por exceder o limite de endividamento e, ainda para mais, com um argumento, no mínimo, falacioso. Diz o presidente, que a dívida da Câmara em 2007 se fixou nos 400 mil euros e que o Estado teria de transferir 6oo mil euros, o que, bem feitas as continhas, daria um saldo positivo. Uma penalização injusta, assegura Barroso. O problema é que o chefe do executivo se esqueceu de dizer que as invocadas transferências do Estado não vão servir para pagar dívida. Trata-se de dinheiro relativo, por exemplo, à nova Biblioteca Municipal e, por isso, já "gasto"...
É, também, por estas e outras que Jorge Barroso se mantém e, estou convicto, se manterá em funções até 2013. Uma Oposição que deixa passar em claro afirmações desta magnitude do presidente da Câmara não pode almejar mais do que, em eleições, ser o primeiro dos últimos.