segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Uma Caixa de Pandora

De como um cemitério pode abrir caminho ao funeral de um político

Uns dias depois de o Governo do PS, com a anuência de vários municípios de cores distintas, ter "oferecido" milhões ao Oeste, a Câmara da Nazaré apresta-se para anunciar mais uma obra estruturante. Com a ironia só ao nível de um camafeu disfarçado de político que anda por aí de "boleia" pela nossa praça, poder-se-ia falar de mais um parque subterrâneo, mas como o assunto é muito sério o melhor é elevar o nível. Falo do futuro cemitério da Nazaré, que o presidente da Câmara admitiu vir a pretender criar, assim que o espaço para ampliação do cemitério da Pederneira chegue ao fim dos dias.
Este é um assunto que não pode ser discutido de ânimo leve.
Confesso que não tinha a noção de que Jorge Barroso fosse tão progressista ao ponto de abdicar do cemitério de todos os nazarenos, ainda para mais para permitir que, uns metros ao lado, fosse construído um condomínio privado. Mas, afinal, onde está a minha admiração?
Admito que tinha a ideia de que o presidente da Câmara teria mais sensibilidade para lidar com questões que podem vir a afectar gerações de nazarenos e nazarenas que, todos os dias, se deslocam à Pederneira para visitar os restos mortais daqueles que amavam. E nem os sucessivos "apelos" do "paleco" Reinaldo Silva sobre a importância cultural que o cemitério da Pederneira tem para a população o fizeram vacilar. O autarca nem se coibiu de, tão magistralmente como costuma fazer, atacar a oposição por querer comprar um terreno "de primeira" em termos turísticos, que iria custar milhares de euros aos cofres da Câmara, mas que defenderia o interesse público e, provavelmente, poderia evitar a eventual contestação popular. "Afinal, somos uma Câmara rica. Compramos tudo", glosou, ainda, Barroso, o qual, obviamente, não escapou às piadas colaterais da compra de votos nas sessões do executivo...
Mas, afinal, o que se passa com Jorge Barroso? O que o fez mudar de um dia para o outro? Que políticos malabaristas são estes que tão depressa acusam alguns de arquitectar planos desconcertantes para eleger presidentes de Câmara e, anos depois, concedem entrevistas elogiosas sobre essas mesmas pessoas, ainda por cima a órgãos, no mínimo, duvidosos e a pseudo-jornalistas com segundas intenções que, curiosamente, têm os mesmos nomes dos visados? Onde isto vai parar? Alguém explica como um indivíduo devidamente identificado pela sociedade pode passar de arqui-rival para braço-direito de um autarca? E, a partir daí, querer condicionar e mandar em tudo, com o beneplácito do chefe. E dizer as maiores barbaridades sobre tudo e mais alguma coisa?
Jorge Barroso pode estar a abrir uma Caixa de Pandora, cujas consequências políticas são difíceis de medir. Ou fáceis. Basta abrir os olhos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pensar a Nazaré

Da importância da envolvência dos jovens na política e da chamada dos verdadeiros independentes ao debate de ideias

A integração dos jovens na política é um tema que deve dar que pensar a todos. Aos jovens, desde logo, porque são os principais interessados em cumprir um dever de cidadania do qual não se devem demitir. Aos partidos e aos decisores políticos, porque os quadros partidários não caminham para... jovens e já se percebeu, há muito, que o actual modelo está longe de interessar às populações. Uma simples consulta pelos dados estatísticos das eleições prova-o bem.
Há muitos anos que não há uma renovação dos quadros políticos na Nazaré. Desde que, em Dezembro de 1993, o independente Jorge Barroso chegou ao poder contam-se pelos dedos das mãos as caras, efectivamente, novas na política nazarena. Aliás, nesse aspecto só o PSD deu alguns sinais positivos, com as chamadas de Miguel Sousinha, em 1997, e Mafalda Tavares, em 2005, para os executivos. Do lado do PS, Luís Rolim (provavelmente o melhor vereador de oposição das últimas décadas) e Vítor Esgaio surgiram numa fase em que já tinham carreiras profissionais mais maturadas, mas foi o melhor que se arranjou para jovens.
Ao longo dos anos, o município foi sendo gerido por pessoas que estão "agarradas" aos lugares, quer no poder quer na oposição. Ninguém abdica de nada, porque o interesse pessoal se sobrepõe ao interesse colectivo. As lógicas de manutenção dos privilégios e favores prevalece, facilitando a tarefa dos eleitos em continuarem no poder, mas dificultando a abertura a novas sensibilidades e a maneiras distintas de fazer política. A opção é simples: adere-se, ou não, ao famigerado "sistema".
É urgente mudar o "status quo" na Nazaré e só não vê quem não quer.
Há os que dependem da maioria baseada no PSD e para esses não restam dúvidas de que o que o concelho precisa são 20 anos de Barrosismo. São esses que vão sustentar nova candidatura do presidente da Câmara, que vai para a sétima campanha eleitoral: as duas primeiras pelo PRD, as quatro seguintes em que ganhou e a de 2009 pelo moribundo PSD.
Depois, há os que querem uma mudança. Mas essa é uma maioria silenciosa, que não está disposta a entrar num terreno pantanoso que só atrai os incapazes ou os adeptos do facilitismo. E isso é que é preocupante: o alheamento de novos quadros, com formação superior, obrigados a trabalhar fora do concelho e a quem, com o actual modelo político, nunca lhes será dada a oportunidade de contribuir para o futuro da terra que amam. A não ser que abdiquem de algo, claro está...
É mais que urgente pensar a Nazaré. Não se pode andar para norte só porque alguém, que arquitectou um plano que não foi sufragado nas eleições autárquicas, decide. Podemos chegar à conclusão que devemos, afinal, andar para sul, se estudarmos de forma séria as várias opções e os caminhos a seguir.
Antes de escolherem os candidatos às próximas eleições autárquicas, os partidos a nível local deveriam apostar na diferença no que diz respeito à elaboração dos manifestos. A criação de gabinetes de estudos que contem com a colaboração de verdadeiros independentes é, apenas, uma ideia que deixo em cima da mesa. Nenhum candidato (exceptuando Jorge Barroso) estará preparado para gerir a Câmara quando tomar posse. Qualquer candidato a sério tem de fazer, primeiro, o trabalho de casa, antes de se acometer a uma tarefa desta dimensão. Para isso, terá de elaborar um plano estratégico, o que só será possível com a contribuição da sociedade civil. Se os partidos se abrirem aos jovens e aos independentes, pode ser que haja salvação para esta democracia pseudo-representativa.