quinta-feira, 8 de maio de 2008

Política à nazarena

O desmontar (se é que isso é possível) do xadrez político que suporta a maioria baseada no PSD. Confuso? É caso para isso...

Ou julgam que somos todos parvos ou, então, está tudo louco. É verdade que, em política, tudo se compra e tudo se vende, mas aquilo a que temos assistido no actual mandato autárquico na Nazaré ultrapassa todos os limites do bom-senso.
Desde que, em meados de 2007, ficou fragilizado com o "despedimento" voluntário ou involuntário do seu vice-presidente de "séculos" Reinaldo Silva, Jorge Barroso mudou, completamente, de estilo.
Foi preciso chegar aos 14 anos em funções de presidente da Câmara para perceber que, afinal, a distribuição de pelouros pela oposição pode, de facto, ser importante. Mais vale tarde, do que nunca! Porém, o que se viria a assistir era algo que os melhores marabalistas da política só podiam achar piada. Senão, vejamos.
Quando se viu acossado, o chefe do executivo municipal nomeou o socialista João Benavente e o independente António Salvador (que nunca deixou de ser, verdadeiramente, militante do PSD, apesar de ter participado num jantar de campanha dos socialistas em 2005, ao lado de... António Trindade) para o auxiliarem nos grandes projectos. Foi então, finalmente então, que a Concelhia socialista apareceu, para atacar a escolha e obrigar o cabeça-de-lista com o pior resultado de sempre no partido na Nazaré a renunciar ao mandato.
João Benavente, contudo, deixou o "legado" ao amigo José Joaquim Pires, que assumiria pelouros no executivo. Isto apesar de o independente, que já tinha sido vereador do... PSD (como isto tudo, afinal, se encaixa...), ter admitido que só integrara a lista do PS devido à amizade com o número 1! No alto da sua sagacidade política, Pires considerava, porém, ter legitimidade para não para trair o eleitorado que nele votou e, tendo direito às mordomias do meio-tempo na Câmara, viabilizou uma inacreditável maioria social-democrata.
Já antes, algo de mais inconcebível acontecera. Ficou para a história a entrevista que Jorge Barroso deu ao "Região da Nazaré", no Verão, na qual aproveitou para elogiar publicamente... António Salvador, o mesmo que, numa das primeiras reuniões do mandato, praticamente chamou de mau arquitecto e que merecia, no entender do presidente da Câmara, ser alvo de uma queixa na Ordem respectiva. Além dos elogios, há outras coisas inolvidáveis dessa entrevista: desde logo, ter sido feita na presença de... António Salvador e conduzida pela esposa deste, Maria Clara Bernardino, que mais tarde seria eleita para a Concelhia do PSD, mas que tinha sido candidata pelos Independentes e, até, pasme-se, sido a "voz" da campanha radiofónica do movimento liderado (?) por António Trindade. Mas ainda não é tudo: as fotos dessa entrevista seriam, curiosamente, tiradas pelo punho de... António Salvador!
O que se seguiria já era esperado: Barroso e Salvador, em nome dos grandes projectos, tornaram-se os melhores amigos do mundo e passaram a partilhar as mesmas visões e preocupações sobre o futuro do concelho. Ao grupo ainda se juntou Pires. Que bonito!
Se a Nazaré fosse uma terra com uma opinião pública atenta, com uma imprensa isenta e que não servisse de suporte para o "reinado" de Jorge Barroso, teria havido o discernimento necessário para a realização de eleições intercalares. Como não houve, alguns que só se representam a eles próprios surgem como figuras incontornáveis do regime. O que vale é que, dentro de um ano, vão ficar a ver navios. Assim vai a política à nazarena.